O triunfo das carraças

Quem tem poder está permanentemente sujeito a ser aliciado ou "corrompido"... afinal pouco interessa corromper quem não tem poder.

Por vezes essa corrupção é tão insidiosa que o visado, mesmo que inicialmente com boas intenções, quase não a nota. Mais tarde, esse conjunto de favorecimentos e benesses  passa a ser considerado como "normal", algo a que se tem direito.

Daí a máxima "o poder corrompe".

Adicionalmente, quem tem menores escrúpulos e maior capacidade de ludibriar, manipular e trair sente-se no seu ambiente natural e rapidamente sobe a escada do poder.

Após as grandes revoluções, quando o poder efetivamente muda de mãos, por um instante encontram-se dirigentes genuinamente preocupados com melhorar a vida dos cidadãos mas rapidamente os parasitas invadem o aparelho do estado e tomam conta do poder: é o conhecido Triunfo dos Porcos.

É então que aparece outro animal: a carraça.

Quem tem poder agarra-se a ele com unhas e dentes. Fará tudo para o manter, às vezes discretamente e indiretamente, outras vezes descaradamente, como acontece hoje em dia em Portugal.

Em conclusão, o poder nas sociedades atuais tende a ser exercido por corruptos... e que depois não o largam.

Como se evita isto?

Removendo o desmesurado poder pessoal, claro.

O poder encontra-se até pior distribuído que a riqueza, embora ambos durmam juntos.

Tal como há sociedades em que 1% da população domina 99% dos recursos, também há sociedades em que 0.0001% dispõe 99.9999% do poder de decisão na sociedade.

A representatividade, obviamente, perpetua estes desequilíbrios porque se rege exatamente pelo principio de POUCOS ficam com o PODER DE DECISÃO que seria pertença de MUITOS.

O único sistema possibilitando uma ideal distribuição de poder é a Democracia - a verdadeira, em que cada um de nós se representa a si mesmo. Aí não há muito para corromper porque o poder não está concentrado em indivíduos ou grupos.

A corrupção apenas poderá ser tentada muito indiretamente: manipulando os media, manipulando personalidades que gozem de uma consideração especial, manipulando o poder executivo ou até mesmo o judiciário..

Porém, devido à internet, controlar os media torna-se difícil, apenas é possível fazê-lo nos suportes mais tradicionais. Há uma franja cada vez maior da sociedade que desconfia dessas fontes e que procura informações online para formar a sua opinião.

Manipular figuras públicas tem um sucesso limitado, nem todos estarão dispostos a aceitar, por exemplo, a opinião da pessoa mais famosa de Portugal - Cristiano Ronaldo - em matérias que tenham a ver com o desenvolvimento do país e o bem estar das pessoas.

Manipular o poder executivo ou mesmo o judicial apenas resulta até ao ponto em que não se torne demasiado óbvio e que não prejudique claramente as pessoas. Quando isso acontece, o poder executivo é demitido e mesmo o poder judicial pode tornar-se alvo de auditorias, de investigações e de novas regras.

Passar o poder a quem ele pertence legitimamente - às pessoas - é portanto a nossa melhor chance de mudarmos a sociedade, com menos porcos a triunfar, com melhor distribuição de riqueza, com ênfase na classe média, com uma economia de mercado mais funcional, com empresas que tenham lucros por mérito próprio, com menos recursos desbaratados, maior produtividade e maior humanismo.


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